segunda-feira, 12 de abril de 2010

O Brasil tem ou não dono?

Copiado do Brizola Neta -- http://www.tijolaco.com/

Li boa parte de seu discurso, senhor José Serra. Talvez eu seja hoje o que o senhor foi, na minha idade, quando era um jovem, que presidia a União Nacional dos Estudantes e apoiava o Governo João Goulart no Comício da Central. Quando o senhor defendia o socialismo que hoje condena, o patriotismo que hoje trai, o desenvolvimento autônomo do Brasil do qual hoje o senhor debocha.

O senhor, como Fernando Henrique, é útil aos donos do Brasil – sim, Serra, o Brasil tem donos, poque 1% dos brasileiros mais ricos tem o mesmo que todos os 50% mais pobres – porque foi diferente no passado e, hoje, cobre-se do que foi para que não lhe vejam o que é.

O símbolo do Brasil que não pode mais, que não pode ser mais como o fizeram.

Não pode mais o Brasil ser das elites, porque nossas elites, salvo exceções, desprezam nosso povo, acham-no chinfrim, malandro, preguiçoso, sujo, desonesto, marginal. Têm nojo dele, fecha-lhe os vidros com película para nem serem vistos.

Não pode mais ser o país das elites, porque nossas elites, em geral, não hesitam em vender tudo o que este país possui – como o senhor, aliás, incentivou fazer – para que a “raça superior” venha aqui e explore nossas riquezas de maneira “eficiente” e “lucrativa”. Para eles, é claro, e para os que vivem de suas migalhas.

Não pode mais ser o Brasil dos governantes arrogantes, como o senhor, que falam de cima – quando falam – que empolam o discurso para que, numa língua sofisticada, que o povo não entende, negociem o que pertence a todos em benefício de alguns.

Não pode mais ser o país dos sábios que, de tão sabidos, fizeram ajoelhar este gigante perante o mundo e nos tornaram servos de uma ordem econômica e política injustas. O país dos governantes “cultos”, que sabem miar em francês e dizer “sim, senhor” em inglês.

Não pode mais ser o país do desenvolvimento a conta-gotas, do superávit acima de tudo, dos juros mais acima de tudo ainda, dos lucros acima do povo, do mercado acima da felicidade, do dinheiro acima do ser humano.

O Brasil pode hoje mais do que pôde no governo do que o senhor fez parte.

Pôde enfrentar a mais devastadora crise econômica mundial aumentando salário, renda, consumo, produção, emprego quando passamos décadas ouvindo, diante numa crise na Malásia ou na Tailândia que era preciso arrochar mais o povo.

Pôde falar de igual para igual no mundo, pôde retomar seu petróleo, pôde parar de demitir, pôde retomar investimentos públicos, pôde voltar a investir em moradia, em saneamento, em hidrelétricas, em portos, em ferrovias, em gasodutos. Pôde ampliar o acesso à educação, ainda que abaixo do que mereça o povo, pôde fazer imensas massas de excluídos ingressarem no mundo do consumo e terem direito a sonhar.

Pôde, sim, assumir o papel que cabe no mundo a um grande país, líder de seus irmãos latinoamericanos.

O Brasil pôde ser, finalmente, o país em que seu povo não se sente um pária. Uma país onde o progresso não é mais sinônimo de infelicidade.

É por isso, Serra, que o Brasil não pode mais andar para trás. Não pode voltar para as mãos de gente tão arrogante com seu povo e tão dócil aos graúdos. Não pode mais ser governado por gente fria, que não sente a dor alheia e e não é ansiosa e aflita por mudar.

Não pode mais, Serra, não pode mais ser governado por gente que renegou seus anos mais generosos, mais valentes, mais decididos e que entregou seus sonhos ao pragmatismo, que disfarça de si mesmo sua capitulação ao inimigo em nome do discurso moderno, como se pudesse ser moderno aquilo que é apoiado pelo Brasil mais retrógrado, elitista, escravocrata, reacionário.

Há gente assim no apoio a Lula e a Dilma, por razões de conveniência-político eleitoral, sim. Mas há duzentas vezes mais a seu lado, sem qualquer razão senão a de ver que sua candidatura e sua eleição são a forma de barrar a ascenção da “ralé”. Onde houver um brasileiro empedernidamente reacionário, haverá um eleitor seu, José Serra.

Normalmente não falaria assim a um homem mais velho, não cometeria tal ousadia.

Mas sinto esta necessidade, além de mim, além de minha timidez natural, além de minha própria insuficiência. Sinto-me na obrigação de ser a voz do teu passado, José Serra. É um jovem que a Deus só pede que suas convicções não lhes caiam como o tempo faz cair aos cabelos, que suas causas não fraquejem como o tempo faz fraquejar o corpo, que seu amor ao povo brasileiro sobreviva como a paixão da vida inteira. Que o conhecimento, que o tempo há de trazer, não seja o capital de meu sucesso, mas ferramenta do futuro.

Vi um homem, já idoso, enfrentar derrotas eleitorais e morrer como um vitorioso, por jamais ter traído as idéias que defendeu. Erros, todo humano os comete. Traição, porém, é o assassinato de nós mesmos. Matamos quem fomos em troca de um novo papel.

Talvez venha daí sua dificuldade de dormir.

Na remota hipótese de vencer as eleições, José Serra, o senhor será o derrotado. O senhor é o algoz dos seus melhores sonhos

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Mídia americana: a verdade caiu e levou a liberdade com ela

Mídia americana: a verdade caiu e levou a liberdade com ela

Hoje em dia os americanos são governados pela propaganda. Os americanos dão pouco valor à verdade, têm pouco acesso a ela, e têm pouca habilidade para reconhecê-la.

Por Paul Craig Roberts*

A verdade é uma entidade não bem-vinda. É perturbante. É de acesso interdito. Aqueles que falam verdade correm o risco de serem marcados como “antiamericanos”, “anti-semitas” ou “teóricos da conspiração”.

A verdade é inconveniente para o governo e para os grupos de interesses cujas contribuições de campanha controlam o governo.

A verdade é inconveniente para os procuradores, que querem ter condenações e não a descoberta da inocência ou da culpa.

A verdade é inconveniente para os ideólogos.

Hoje em dia, muitos que dantes tinham como objetivo a descoberta da verdade são agora generosamente pagos para escondê-la. “Economistas do mercado livre” são pagos para vender serviços de offshore ao povo americano. Alta produtividade, empregos americanos de alto valor acrescentado, são denegridos e classificados como velhos e sujos empregos industriais.

São relíquias de outros tempos, o melhor é livrarmo-nos delas. O lugar delas foi ocupado pela “Nova Economia”, uma economia mítica que alegadamente consiste em empregos de colarinho branco de alta tecnologia, nas quais os americanos inovam e financiam atividades que ocorrem em offshores. Tudo o que os americanos precisam para participar nesta “nova economia” são licenciaturas em finanças tiradas em universidades Ivy League e depois irão trabalhar em Wall Street em empregos de milhões de dólares.

Economistas que foram, em tempos, pessoas respeitáveis recebem agora dinheiro para alimentar este mito da “Nova Economia”.

E não são só os economistas quem vendem as almas pelos nojentos lucros. Recentemente, têm-nos falado de médicos que, por dinheiro, publicaram em jornais revistos por outros médicos das mesmas especialidades “estudos” forjados que enaltecem este ou aquele medicamento produzido por empresas farmacêuticas que pagaram pelos “estudos”.

O Conselho da Europa está a investigar o papel das empresas de drogas na publicidade enganosa na pandemia da falsa gripe suína com o fim de ganhar milhões de dólares nas vendas da vacina.

Os media ajudaram a propaganda do aparelho militar norte-americano na sua recente ofensiva no Afeganistão ao descreverem Marja como uma cidade de 80.000 habitantes sob controle do taliban. Acontece que Marja não é uma cidade, mas um aglomerado de quintas agrícolas numa aldeia.

E ainda há o escândalo do aquecimento global, em que ONGS, as Nações Unidas e a indústria nuclear se conluiaram na manufatura de um cenário de Juízo Final para criar lucro na poluição.

Para onde quer que olhemos, a verdade vai ter ao dinheiro.

Onde quer que o dinheiro não seja suficiente para enterrar a verdade, a ignorância, a propaganda e as memórias curtas fazem o trabalho.

Lembro-me quando, seguindo o testemunho do diretor da CIA William Colby ante a Comissão Church em meados dos anos 70, o presidente Gerald Ford e Ronald Reagan emitirem ordens executivas para impedir que a CIA e os grupos “black-op” assassinassem lideres estrangeiros. Em 2010, Dennis Blair, responsável pela espionagem nacional, disse ao Congresso dos Estados Unidos, que agora os EUA assassinam os seus próprios cidadãos além dos líderes estrangeiros.

Quando Blair informou a Comissão de Serviços Secretos da Câmara de Representantes que cidadãos dos EUA já não precisavam ser presos, acusados, julgados e condenados por crimes muito graves, apenas assassinados por suspeita de serem uma “ameaça”, ele não foi impugnado. Não se seguiu uma investigação. Não aconteceu nada. Não houve uma Comissão Church.

Nos meados dos anos 70 a CIA teve complicações devido a conspirações para matar Castro. Hoje, são cidadãos americanos que estão na lista para ser abatidos. Quaisquer objeções que se levantem não trazem consigo qualquer peso. Ninguém no governo se preocupa com assassínios de cidadãos norte-americanos pelo governo dos Estados Unidos.

Como economista, fico espantado que a profissão de economistas americanos não tenha qualquer tipo de consciência de que a economia dos EUA tenha sido destruída pelo recurso às operações de PIB americano em offshores estrangeiros. As empresas americanas, procurando vantagens absolutas ou custos mais baixos possíveis na mão-de-obra e os máximos “prêmios no desempenho” por diretores executivos, deslocaram a produção de bens e serviços do mercado americano para a China, Índia e outros sítios no estrangeiro. Quando leio economistas a descrever o recurso a offshores como mercado livre baseado em vantagem comparativa é que percebo que não há inteligência ou integridade na profissão americana de economistas.

Inteligência e integridade foram compradas por dinheiro. As empresas transnacionais ou globais dos EUA pagam pacotes de muitos milhões de dólares de compensações aos gerentes de topo que atingem estes “prêmios de desempenho” pela substituição de trabalhadores americanos por mão-de-obra estrangeira. Ao mesmo tempo em que Washington se preocupa com a “ameaça muçulmana” as empresas de Wall Street e os intrujões do “mercado livre” destroem a economia dos EUA e as esperanças de dezenas de milhões de americanos.

Os americanos, ou a maioria deles, têm provado ser massa de vidraceiro nas mãos do estado policial.

Os americanos reivindicam do governo que a segurança exige que se suspendam as liberdades civis e que o governo não tenha que prestar contas do que faz.. Surpreendentemente, os americanos, ou a maioria deles, acreditam que as liberdades civis, como habeas corpus e o seu processo, protegem “terroristas” e não eles próprios. Muitos acreditam também que a Constituição é um documento velho e cansado, que impede o governo de exercer o gênero de poderes de estado policial necessários para conservar a América segura e livre…

É pouco provável que a maioria dos americanos escute alguém que lhes diga algo de diferente.

Fui editor associado e colunista do Wall Street Journal Fui o primeiro colunista exterior dos “Negócios da Semana”, posição que desempenhei durante 15 anos. Fui colunista durante uma década no Scripps Howard News Service, que representava 300 jornais. Fui colunista no Washington Times e em jornais em França e Itália e numa revista na Alemanha. Fui colaborador do New York Times e escrevi regularmente no Los Angeles Times Hoje, não consigo publicar ou ser mencionado nos “media dominantes” americanos.

Fui banido, nos últimos seis anos, dos “media dominantes”. A minha última coluna no New York Times apareceu em Janeiro de 2004 e teve como co-autor o Senador do Partido Democrático, Charles Schumer, representando Nova Iorque. Tratamos do assalto dos EUA às operações offshore. O nosso artigo, oposto à página editorial, resultou numa conferência na Brookings Institution em Washington e teve cobertura pelo C-Span (”Cable Satelite Public Affairs Network”). Teve lugar um debate. Hoje, isto não podia ter acontecido.

Durante anos fui um pilar do Washington Times, criando credibilidade para esse jornal “Moony”(NT: jornal conservador fundado em 1982 pela Igreja da Unificação; criação de Sun Myong Moon) como colunista de “Negócios da Semana”, antigo editor do Wall Street Journal e ex- Secretário Adjunto do “Treasury”. Mas quando comecei a criticar as guerras de agressão de Bush a ordem para cancelamento da minha coluna foi dada a Mary Lou Forbes.

Os media das empresas americanas não servem a verdade. Servem o governo e os grupos de interesses que mandam no governo.

O destino da América ficou selado quando o público e o movimento anti-guerra compraram a teoria da conspiração do 11 de Setembro. A descrição pelo governo do 11 de Setembro é contrariada por muitas provas. Contudo, este determinante acontecimento do nosso tempo, que lançou os EUA em guerras de agressão intermináveis e num estado policial, é um tópico tabu para investigação pelos media. Não vale a pena queixarmo-nos da guerra e do estado policial quando aceitamos a premissa sobre a qual estão assentes.

Estas guerras de milhões de dólares criaram problemas de financiamento para os déficits de Washington e ameaçam o papel do dólar como moeda de reserva mundial. As guerras e a pressão que os déficits do orçamento põem no valor do dólar colocam a Segurança Social e os cuidados de saúde numa posição delicada. Goldman Sachs, ex-presidente, e Hank Paulson, Secretário de Finanças, procuram estas proteções para os idosos. O presidente federal Bernanke também. Os Republicanos também querem. A estas proteções chamam-lhes “direitos devidos”, como se fossem uma espécie de previdência social para o qual o povo não tenha pago em descontos nos salários durante toda a sua vida de trabalho.

Com mais de 21% de desemprego, medido pela metodologia de 1980, com os empregos nos EUA, o PIB e a tecnologia dada à China e à Índia, com a guerra a ser a maior responsabilidade de Washington, com o dólar sobrecarregado de dívida, com a liberdade civil sacrificada à “guerra ao terror”, a liberdade e a prosperidade do povo americano foram atiradas para o caixote do lixo da história.

O militarismo dos EUA e do Estado de Israel, a gula das empresas e de Wall Street, seguem agora o seu curso, Quando a caneta é censurada e o seu poder é extinto, retiro-me de cena…

* Paul Craig Roberts foi editor do Wall Street Journal e Secretário-assistente do Tesouro dos EUA, este texto foi publicado no infowars.com de 24 de Março de 2010, Tradução de João Manuel Pinheiro