Diante da gritante desproporção entre os tempos dispensados pelo Jornal Nacional para as convenções que escolheram Serra e Dilma, Lula disse – sem citar a Globo – que veículos que tivessem preferências partidárias deveriam assumi-las para que o eleitor de Dilma mudasse de canal quando aquele veículo estivesse fazendo campanha.
A Globo acusou o golpe e deu amplo espaço, em seu último programa dominical “Fantástico”, para a convenção do PT. Devo dizer que foi uma cobertura correta, equivalente à de Serra.
Fica cada vez mais claro, portanto, que a Globo – e a Folha,o Estadão, a Veja e os seus tentáculos na imprensa nacional – não pretende assumir sua opção eleitoral coisa nenhuma, pois acredita que a imagem de isenção é a que melhor favorece o sucesso de sua campanha dissimulada para José Serra.
Contudo, basta uma rápida lida nos jornais da coalizão tucana para detectar a enorme diferença de tratamento que é dado aos dois grupos políticos e, sobretudo, aos seus candidatos a presidente.
Para Lula, Dilma e o PT abundam termos e expressões pejorativas, julgamentos de valor sem qualquer base factual, oriundos apenas de opiniões e preferências. Para Serra, uma maioria gritante de elogios e raríssimas críticas, além de repetitivo endosso às teses tucanas.
Vejam, por exemplo, o que se pode extrair rapidamente dos jornais desta segunda-feira. Depois, que cada um procure coisa semelhante em relação a Serra nos mesmos veículos. Ao fim, que se tire as conclusões inevitáveis sobre essa fantasiosa isenção que a imprensa se atribui.
Correio Brasiliense
- Na oficialização da candidatura de Dilma à Presidência, PT “desbota” o vermelho das bandeiras e direciona o discurso para o público feminino, ainda resistente ao nome da ex-ministra de Lula
- Lula, sombra indispensável
- Serra arregaça as mangas
- Serra foi bastante aplaudido
O Estado de São Paulo
- · Presidente domina festa de oficialização da candidatura da ex-ministra
- Dilma fez um discurso de 50 minutos, mas não empolgou os militantes.
- Ainda sem entusiasmar a plateia, que soltava tímidos aplausos, Dilma comparou o Brasil de gestões passadas
- Ao defender um governo de coalizão, Dilma parecia à vontade ao lado dos novos aliados – desafetos do PT num passado não muito distante, como o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP)
- Dilma é candidata por falta de opção
- O PT continua sendo o partido dos pobres, mas não da ética
- Ao discursar, o presidente disse que mudou de nome nesta eleição, para Dilma. E que ela o representará na urna eletrônica. Só falta agora Lula ir à TV e, ao melhor estilo Enéas, bradar: “Meu nome é Dilma.”
- O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ofuscou a ex-ministra na convenção de ontem
- Presidente Lula empata com Figueiredo [último ditador militar]
O Globo
- · Dilma acabou ofuscada pela desenvoltura do presidente no palanque
- Serra se beneficia daquilo que a população enxerga como a grande obra de FHC – o fim da hiperinflação – e mais ainda da sua notável gestão à frente da Prefeitura e do Estado de São Paulo
- A população parece querer mais do que apenas manter conquistas importantes
- Não nos deixemos enganar pela visão equivocada de que o País está muito bem, que é só pisar o pé no acelerador, manter as políticas atuais e em breve seremos uma potência mundial.
- Ao se colocarem a serviço direto, sem disfarces, da candidatura de Dilma Rousseff à presidência, a infração menos grave que as centrais sindicais cometeram foi a “antecipação” da campanha
- Ninguém é insubstituível. A alternância está no DNA da democracia. Lula tem méritos? Inúmeros. Mas sua maior grandeza, seu genuíno serviço, seria a renúncia ao projeto pessoal de perpetuação no poder.
- A cúpula do PSDB vem cobrando explicações do PT sobre a elaboração de um dossiê contra seu candidato à Presidência, José Serra
- Jingle associando a candidata à palavra “coroa” gera protesto de militantes do movimento de mulheres
- Na área externa do salão [da convenção do PT], uma barraquinha vendia DVDs piratas
Valor Econômico
- O Brasil pode estar ganhando respeito no front econômico, mas quanto à liderança geopolítica, Lula acaba preservando imagem de país ressentido e com complexo de Terceiro Mundo
- O Brasil ainda não está pronto para ter um lugar de destaque nos círculos internacionais
- Lula está prejudicando a reputação do Brasil em nome de sua própria gratificação política.
- No mais contundente discurso político desde o início da pré-campanha à Presidência da República, José Serra foi oficializado candidato do PSDB acusando o governo de desdenhar a democracia, menosprezar o Estado de Direito, intimidar a imprensa, sustentar “organizações pelegas” e tentar aniquilar a oposição “pelo uso maciço do aparelho e das finanças do Estado”. Os adversários foram classificados de “neo-corruptos”.
Folha de São Paulo
- À sombra de Lula, Dilma promete “alma de mulher”
- No final de seu discurso, Lula lembrou que pela primeira vez, desde 1989 (…)Foi como uma cena de sexo explícito (…) Dilma apenas sorria, empetecada
- Depois que Serra o comparou a Luís 14, Luiz da Silva à sua maneira responde: Dilma sou eu! Expôs ao mesmo tempo a força da candidatura e a fragilidade da candidata.
- Dilma tomou a palavra. Fez um discurso tecnocrático, modorrento, sem ênfases ou graça. A plateia se dispersou e cochichava bastante.
- Se o projeto petista fosse um filme de Hollywood, James Cameron poderia ser o diretor. O roteiro teria Lula enviando seu avatar para a campanha.
- Sobre Dilma governar “com o nosso amor”, a frase é incompleta. Haveria mais rigor num verso falando em administrar o país “com o nosso amor, e também com Sarney, com o PP de Maluf, o PMDB e seu apetite por cargos e com o PR de Valdemar Costa Neto”.
- Lula zarpou do evento assim que Dilma encerrou sua fala para não dividir holofotes com a candidata.
- A campanha de Dilma tenta organizar um convescote para que ela assista à estreia do Brasil na Copa
- A campanha de Dilma Rousseff usou ontem um logotipo que lembra o utilizado na campanha de Barack Obama
- Lula sabe que Dilma está longe de empolgar
- O discurso de Dilma foi longo, ainda num tom monocórdico, deixando a militância sonolenta.
- Num encontro previsível, com uma militância comportada e ensaiada, o roteiro buscou fazer de Dilma a personagem principal do evento.
- Lula vai grudar sua imagem mais do que nunca em Dilma. Tanto que o eleitor realmente pode votar na petista pensando estar dando ao presidente um terceiro mandato.
- Enquanto Dilma discursava, Lula conversava com sua mulher, Marisa Letícia. Chegou até a bocejar.
- O tom enfadonho de Dilma ganhará ares de entusiasmo
Tudo que você leu é apenas parte dos ataques renitentes que a grande imprensa dedica a Dilma, a Lula e ao PT todo santo dia há anos e anos. São deboches, ilações, suposições, fofocas e mentiras, muitas mentiras.
A campanha de Dilma está sempre em crise, ela é apresentada o tempo todo como uma marionete sem cérebro e Lula, como um criminoso que estupra a lei seguidamente e que é capaz de qualquer coisa para eleger a sucessora.
Já sobre Serra, pouco se encontra nos jornais, nas tevês etc. É muito raro ler alguma fofoca ou deboche, a não ser quando reproduzido em falas dos adversários, sempre mostrados como desleais. Sua campanha dificilmente sofre alguma crise (na mídia).
Entre Lula e FHC, são dezenas de vezes por dia, há quase oito anos, que a mídia atribui os sucessos do primeiro ao que o segundo teria plantado, apesar de ter entregue um país escangalhado ao sucessor e de ser repudiado pela maioria esmagadora dos brasileiros.
Enfim, todos os dias, enquanto se diz isenta, a mídia dá reiteradas e fartas provas de seu partidarismo desabrido pró PSDB e, sobretudo, pró Serra. Em minha opinião, negar esse partidarismo só serve para fixar mais na cabeça do eleitor o que é um fato inegável.
No fim deste ano, quando o novo presidente – ou a nova presidenta – já for conhecido, talvez, então, esses impérios de comunicação comecem a dar bola para o que disseram pessoas como eu, que só esses impérios – e seus asseclas – não percebem como seu partidarismo é gritante.
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